Continuamos fazendo o trabalho de apoio ao orquidófilo Glauco Batalha, trabalho agradável e delicado, com muitos detalhes a serem observados, caminhadas na mata, lugares com alguma dificuldade de acesso. Caminhamos em silêncio, não porque as orquídeas fujam, mas pela maravilhosa oportunidade do silêncio. Sabiam que o silêncio é considerado uma das coisas mais difíceis hoje em dia?
E mesmo o quase silêncio. Foi nesta condição que descobri que o pixarro ou trinca-ferro que canta preso em uma gaiola na minha rua, tem o canto diferente daquele que ouvi quando andava esta semana pela mata! Como diz o casal Dimas e Rose, no excelente blog dimaserose.blogspot.com: -Pássaro em gaiola, não canta, lamenta!
Aliás, percebemos que as orquídeas estão mais preservadas onde há silêncio e moram pessoas comprometidas com a qualidade do ambiente, que se orgulham de dizer que dali não se tira nem um “pau”! Uma das propriedades que tivemos a autorização para entrar e pesquisar pertence a um policial florestal que batalha pela preservação e um amigo dele nos contou uma história interessante:
Este amigo descobriu que uma pessoa estava armando gaiolas e alçapões em suas terras e levando os pássaros de belo canto para vender e fazer os rolos, eles sabiam quando o sujeito passaria com os pássaros caçados e resolveram tomar uma atitude. Esperaram na estrada o rapaz que vinha com sua gaiola e o abordaram, o policial ficou no carro:
-Bom dia, onde o senhor conseguiu tanto passarinho?
- Bom dia, é fácil, estas matas estão cheias deles, eu levo para fazer rolo.
-É, e as pessoas gostam?
-Nossa, eles gostam de ouvir o canto logo cedo, tem uns que cantam muito de manhã!
Neste momento sai o policial do carro e se identifica, já recolhendo a gaiola e libertando os pássaros.
-Quer dizer que pássaro preso canta bem logo cedo? Então podemos fazer o seguinte, vou levá-lo preso e caso amanhã de manhã, o senhor cante bem bonito lá na gaiola do xadrez e prometer nunca mais aprisionar bicho, vamos pensar no seu caso!
Não é preciso dizer que os pássaros estão bem soltos na região!
Outro relato interessante e cheio de poesia foi o de senhor Geraldo de 83 anos e que vai fazer uma operação de cataratas, portanto, nesta fase da vida, está com a visão prejudicada:
- Filho, nosso sítio se chama Beira Céu, a noite aqui é linda! Eu e minha velha Helena, quando perdemos o sono, às três ou quatro da madrugada, subimos naquela pedra alta ali, eu pego um bambu bem grande e ficamos brincando de arrumar as estrelas!
Viva o silêncio!
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